Não fuja da Verdade, olhe para cima!

Thiago Ávila
3 min readDec 22, 2022

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Ontem assisti “Não Olhe Para Cima”. Filme muito polêmico da Netflix, mas que traz uma reflexão sobre centenas de coisas. Ele se propõe a ser uma comédia alegórica satírica sobre Verdade e establishment. Como é um filme que abre brechas para diversas interpretações, gostaria de levá-lo ao lado cristão.

A premissa do filme se baseia no fim do mundo e de como a imprensa, a política e grandes empresários iriam tirar proveito dessa catástrofe para lucrar e ganhar votos.

A alegoria do “Olhe para cima” ou “Não olhe para cima” é uma clara referência à alegoria da caverna, de Platão. O establishment não quer que você veja a realidade como é, não quer que você busque a verdade. Aqui não existe o conceito de verdade relativa, inclusive, um tema até que podemos relacionar com o cristianismo. Quando você diz a verdade, você é “tirado de cena”, engolido pelo establishment.

A jornada do personagem de Leonardo DiCaprio é muito bem trabalhada. Ele começa como um cientista que não tem um midia training muito bom, que não consegue explicar a própria descoberta, e com o tempo passa a se tornar parte do sistema, depois de a internet o pintar como o “cientista galã”. Ali ele trai sua esposa com a apresentadora de TV, se envolve na campanha de reeleição e cai no conto do CEO. Quando ele percebe que está fugindo da verdade para buscar os prazeres próprios, ele é “tirado de cena”, e todo seu “mar de rosas” vai embora junto. Ele e Jennifer Lawrence montam uma espécie de “chapa Olhe Para Cima” para rivalizar com a presidente. No entanto, sem a ajuda do establishment, eles não conseguem salvar o planeta.

A jornada de DiCaprio termina com um final feliz, inclusive até podendo ser relacionada à parábola do filho pródigo. A esposa o perdoa, os filhos o recebem com felicidade, e para completar: para quem é dedicada as últimas palavras? O personagem de DiCaprio pede a Timothée Chalamet fazer uma oração a Deus.

Por que um cientista clamaria por Deus em seu leito de morte? É aí que o filme acerta em não confundir as duas coisas, tratando seu filme não como um filme científico, mas como uma demonstração de valores morais, em busca da verdade. Uma filosofia ligada a uma base cristã.

Reprodução: Don’t Look Up (2021)

E onde que entra o catolicismo nisso? Na preparação para a morte, na espera da vinda do salvador. Nesse caso, a vinda dele estaria metaforicamente relacionada a um meteoro que explodiria a Terra, algo de certa forma pagã, mas que tem uma base sobre o nosso comportamento em relação ao fim do mundo.

O establishment representa o diabo, que a todo custo busca desviar o assunto para fazer com que as pessoas fiquem presas ao mundo material dos prazeres. Tanto que estes não morrem, fogem para um outro planeta num jatinho intergaláctico fabricado pelo CEO. E antes de partirem, a presidente ainda tenta convencer DiCaprio a escapar com eles, ou seja, um convite prazeroso ao inferno.

O personagem de DiCaprio, apesar de ser um cientista ateu, pode muito bem representar um católico em amadurecimento, que vive numa luta diária entre o pecado e a santidade. Tentado pelos prazeres do establishment, mas firmes aos seus valores morais. Ao final, ele se torna um evangelizador, um propagador da Verdade, busca se reconciliar com a família, se arrepende de seus pecados e passa seus últimos momentos em comunhão com Deus. Sua jornada santa se conclui ao renunciar o convite do diabo de degustar da vida mundana por mais um tempo.

E a cena dos créditos, apesar de boba, passa uma moral louvável: Mais vale morrer em comunhão com Deus, e viver pela eternidade, do que passar milhares de anos em uma vida desregrada e sem valores morais e ser devorado pelo demônio.

Portanto, não fuja da Verdade. Olhe para cima!

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